Aos nossos belos segredos
Ergo as aspas, mas não falta mais nada. E talvez, seja como parte de mim, citando-me em cabelos, em actos, e em devoções, com um aceno que se ergue em segunda mão para nunca ter pretexto de partir. Como um acreditar em todas as noites secundárias, aquelas distantes do ontem.
- Faltas tu.
Poderia ter-te sem nome. Dentro de mim algo saberá como te chamar.
- Eu sou quem tu quiseres.
Quero que sejas o que dentro de ti quer ser. A crua, a dura, a que semeia sonhos. A minha pequena nuvem. Aquela que sobe na minha imaginação. Resta um pensar distante.
Não te posso agarrar, não o posso agarrar.
Ele é como a minha pele.
Esta noite destilo rios de amor por ti.
- Esta noite?
Esta noite destila. A noite passada transbordava. A próxima noite sufocará.
Entras em mim, vestes a minha pele. Mais que palavras, mais que pretextos. É um digno significado.
Escrever-te é libertar um estranho poeta adormecido na paixão. Ele sabe nos teus olhos todas as palavras julgar.
E no fim tu és a sua sentença, um castigo eterno que se quer marcar na pele, como uma virgindade furada.
És-me como ser. Uma vontade. Um ter. Uma morte desenhada a cores no viver.
Espero de coração que esta noite nunca mais acabe.
- Tenho tido saudades tuas...
Meu amor, não tenhas saudades de algo que existe no fundo de ti.
- O que se passa esta noite? Espero que nunca deixemos de existir. Meu eterno.
Esta noite é fogo pintado de gelo. Eu sou apenas um pedacinho de vida que conheceste.
Tenho um mundo, um estranho e vasto mundo.
Entras-te pelo buraco da agulha com que coso a minha própria paixão.
Por tua causa estou deitado, paralisado e já não sei mais quem sou.
- Mas eu, deitada, sei quem tu és para mim! És a pureza e a sinceridade, um ser delicado que deve ser manipulado como dinamite. És negro, és profundo, és luz na minha alma.
És também melodia.
A parte estranha desta nossa meia dose de luar não se fica pela escassez na nossa gula de um pelo outro. Este luar é aquele que que tens as minhas palavras arrancadas da boca sem os olhos terem tempo de as olhar.
É a sensualidade de uma sombra sem rosto.
Um suspiro vazio de uma noite perdida nos braços de quem nos encontra.
Sabes? Gosto de te imaginar como princesa. Não como as dos contos, muito menos como as das fábulas. Mas sim uma versão real, perversa, cheia de significado.
Das flores, pólen de sonhos, seguem como gira-sois que fizeram greve à luz do sol, e erguem ondas de braços. Cada um segurando uma espada, um escudo, em nome de poesia proibida entre nós.
As palavras são ereções.
Patinam, escorregam. São pontes em bicos de pés para te chegar.
Entoa na janela um suspiro.
És quem me rasga a pele e a roupa. Apenas com o carinho mais sincero que senti.
E no dia que a sombra virar arrogância, certamente que a lua se irá rir.
Não há espaço para nomes quando dois mortais sentem por instantes experimentar a imortalidade.
- Sempre gostei de ti. mesmo antes de te conhecer. Sempre que ela falava de ti. Falar contigo, abrir-me contigo. Devorar tudo de ti. Fazes parte dos meus pensamentos e ultimamente mais que nunca.
Esta é a nossa forma. Uma vontade acima da matéria, uma forma que poucos conseguem estar.
- És proibido, és apetecido. Sei como te agradar. Representas um lado escuro que anseio penetrar. Já te disse que te adoro?
Já. Mas podes voltar a dizer, repetir o infinito nos teus lábios. Podes repetir com todas as palavras, com todos os bater de asas.
Somos proibidos, e isso só me faz a mim feliz.
Como se fosse um demónio, um corvo negro que te sente tão, mas tão, ansiosa por mim.
A magia que te toque, e voe para mais ninguém pode voar.
Sou anjo, e tenho sorriso congelado. É desta forma ardente de te ter nos meus braços.
Mas também me fazes escritor, aquele que sempre quis ser.
- Acho fascinante o poder que conferem às palavras. O calor que despertam a cada virar de página. A vontade de continuar sem nunca mais parar. É divino.
É a vontade do teu nome, das palavras que peregrinam para ele agradar.
Princesa proibida. Se nos raptarem por meses, sei que estarás para continuar a nossa dança.
Sem marcas, apenas com a vontade a rasgar.
Esta noite assinamos a meias com fogo ao luar