“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata

s. t. s. s.

Há imensa coisa que tenho a dizer, mas parte dela não pode mais ser dita.

1963, Malcolm W. Browne, World Press Photo of the Year

Por momentos pensei estar demasiado triste para escrever, mas quando me vi a espreitar à minha janela enquanto aqui me sento, tive um simples momento em que nunca me julguei como uma pessoa verdadeira alegre no reflexo do vidro que ali foi deixado a ver.
Embaciado apenas, mas tenho que admitir que estou apenas cansado de todas as manhãs em que me lembro de acordar, em que há um galo sobre a minha cama. Canta, recanta, e apenas ele pensa que encanta. No fundo apenas espanta. Espanta como fantasma nos dias mais claros de se viver ou nas noites em que ninguém tem tempo para pensar em dormir. É tudo como uma certeza apagada e passada a limpo pelo duvidoso escritor do que poderia ter sido ontem.
Propaganda crónica de um ego, pensa ela na razão. E ela? E amanhã? Fazes jejum dele?
Não importa o conto de ti, pois deixei um bilhete no teto e só preciso de dizer que não sou nada do que sonhas. Do que pensas que sou. Ou daquilo que poderia ser.
Sou um mero êxtase do momento, uma consequência demasiado pensada que foi deixada de lado pelo momento em si. Como um começo de uma vontade deixada a meio pela advento razão, o frio na noite de inverno quando te viras na cama e ficas incomodada. Mas te esqueces que do outro lado está ele.  

Mas o mundo não é uma anedota nas bocas daqueles que o contam? Então porque não vejo ninguém a rir? E se riem, porque fingem um sorriso que pesa demais quando a solidão chega e os encontra num simples canto com quatro esquinas a chorar?
Sempre achei que o maior caixão que levavamos para a terra não é aquele de madeira, mas sim aquele que é feito de nós. Não porque as minhas cicatrizes sempre teimaram comigo o que não deveria mostrar, um estranho avesso da dor, mas pela propria ideia de uma alma que é fabricada dentro de uma vagina com o propósito de um milagre.
Milagre, talvez seria um deus tão medroso que teve medo de existir! E não apenas nesse sentido, morreu na velhice quando ainda era novo. Esqueceu-se de pentear a vida, e a vida despeteada é orientada pelo vento que a morte sombra, e não é rapando-a como pelos que lutam por subir de divisão que o amanhã espera no horizonte.

Sei-me, e odeio as contas deste saber.
Porque de tanta coisa que me deram a escolher, decidi ser eu.
E isso é o maior troféu que se esqueceram de me dar. Mas o galo, disfarçado e comendo o milho dos outros galos, tantos galos, é aquele que ainda abre o bico para cantar.
Acordaste na cama com a vida, mas esqueceste-te que eu aqui fui o primeiro a acordar.
Deixei a cama fria. Mas continuo calado e deixo-o cantar. Vou deixar tudo para manhã e não apontar nada nos meus afazeres.

Esta é a nota onde penso estar escrito: "Hoje deixei de fazer sentido."
Encontrámos-nos, um dia, no andar de cima da vida. E até lá, peço-te por favor, vive a vida pelas escadas, as paixões pelos degraus, porque o meu elevador é nada mais que as ruínas da tua alegria esquecida debaixo, numa vala comum de mim, dos sorrisos que finges viver.