Ao som da chuva
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| 2012 - Drave (Lost village in Arouca) Own Picture |
Há uma pequena dor em mim que me diz para respirar, respirar profundamente sem medo dos espinhos de todas as rosas dentro dos meus pulmões onde, entre tintas e raízes, tossem a sangue as mais belas pinturas que jamais verás sobre mim. Nascem como outra farsa, outro monumento sem inspiração externa, em honra desta auto medicação a curto prazo para os reinos do meu sono eterno.
Tudo conhece a ruína como a estrela desta minha noite sem luz, desta estranha forma de existir que alguns conseguem dela viver. Sei-me por onde caio sem asas ao lado onde ninguém pode cair, muito menos sair, e sem razão encurralo-me poder escrever uma melodia onde me cravo a pedra nos olhos da poeira.
Deixei de saber chorar porque sou parasita do meu próprio sofrimento. Acendo-o, aqueço nele as minhas mãos, e adormeço sem vontade de ver mais as cores deixadas para o tal amanhã com os sinos a entorem tudo aquilo que deixei por te dizer. Mas sem história nestes pulsos de fraca glória, caros cavalheiros, o meu nome não é digno como o dele, dela, e de todos os intervenientes neste soneto contado pelos anjos que se esqueceram de me guardar de mim mesmo.
Calo-me, apenas, e finjo existir.
Tudo em vão porque sou apenas mais um doente na tua lista de espera, vagueando as morgue na procura do fim quente sobre as costas de quem jamais saberá o que é se levantar. Cinzas dos teus sonhos quebrados, paixão ardente da virgindade perdida e dos sonhos pintados a fogo numa folha facilmente inflamável. Somos/fomos congelados e queimados ao ritmo de um amor aparecido pelos rasgos dos meus pulsos e pela tinta calibrada a sangue sobre o teu imaginário ainda perdido. Amas-me apenas num passado, e esse meu fragmento que o vive deve viver feliz.
Não tenho medo de admitir que sou o fantasma à espera de morrer, em nome de um reles pai, de um filho, e de inferno sintonizado que deixei mais de temer neste pequeno fragmento da minha existência, pois um dia respirei neste planeta que decidiram chamar "Terra".
Mal ele sabe que ela nunca existiu. Mas o que impede de a sua verdadeira face ser ainda mais apaixonante do que aquela amada eternamente?