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Nos hospitais espera-se em silêncio, mas eu faço imenso ruido sem abrir a boca |
- Emo de merda!
Vejo-o, com um riso estranho dentro de mim, quando olho na cara de alguns estranhos que cerram os olhos em mim. E divirto-me, com a sombra ignorante de anos, com a empatia de lhes acrescentar de forma irônica:
- Morte a todos eles!
Mas o que me traz aqui hoje não se corta em forma de franja ou pulsos. Na verdade, corta-se em tempos do ontem, do amanhã, e da certeza das coisas mais sóbrias que me alucinam.
Em primeiro lugar, o amor dos outros fazem-me confusão. Ocupam os melhores lugares no parque, escrevem nomes, muitos nomes, em árvores, paredes, numa tentativa permanente de dar asas a uma ancora temporária. E deixam-me a mim, e a minha alma-companhia de fim de tarde, longe dos melhores lugares para as conversas mais profundas. Fico-me de mãos dadas com o afogamento.
Em segundo, alguém esteve comigo de uma forma como nunca estive com ninguém: Desinibida. Não tive medo de abraçar, de agarrar, e de dizer os segredos que me corroem a alma. Da mesma forma como os ouvi, ou recebi, e os compreendi. Isto não significa que o tempo me tenha dado exclusividade às pessoas, porque isso não é verdade. Apenas, com o tempo, vou lutando para matar fantasmas que se acham engraçados e me vão tentando alienar daquilo que sou.
Por isso escrevo estes pontos com um sorriso estranho, baseados num passeio de mãos dadas com ela sobre o Mondego e o desabafo mais insano que lhe dei sobre as três grandes mulheres da minha vida.
Uma sentou-se a meu lado sobre o Mondego e deixou-me ser quem sou, outra respira o ar desta cidade comigo num remoinho de jardins e pétalas e a outra vive num anseio do meu coração, de a ver, sentir e abraçar até ao fim da existência, quando o nosso parisienne moonlight cair sobre os ombros.