“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata
Aos anjos e farsas, as minhas vontades sepultadas.


Se correr pelos rios sempre foi desejo das mais belas flores presas à terra, esta historia podia-nos ter transbordado num pequeno oceano de pétalas sem nome. Arrastar raízes, bem ao lado do teu sorriso que florescia os meus dias, fez-se como ancora dos sentimentos num fundo incerto de vontades, apaixonado a um afogamento convicto com mapa nas mãos do tesouro mais silencioso que um coração pode cantar. 
Sei que deixei tudo por te dizer. Do mesmo modo que podia ter dito que te amava, daquela maneira imbecil, a cada suspiro sem pés onde cair ou agarrar, ou a cada estremecer encontrado na minha caligrafia serena onde o teu nome fazia os mais belos títulos  Podia também, da minha forma infantil e gelada, ter-te escrito um conto de chuva de estrelas sobre os olhares invejosos da lua. E tudo seria como o rasgo que sobressai de luz na noite, com a vontade insaciável da escuridão, para te embalar sobre as nuvens onde o vento não consegue soprar.

Sei-me pelas tímidas palavras que te escrevi, ao sol, às rosas vermelhas e ao fim previsto por mim mesmo de uma história que nunca começou porque fiz-me ponto antes da última frase em honra da tua despedida.
A verdade é que nadam, sem rumo, saudades dentro de mim. Perderam-se apenas pelos teus olhos sobre sacrifício de uma jangada sem rumo nos rios de Hades. E tudo isto pela vontade desenfreada de te ver, apenas, como estranha e distante paixão sem necessidade de nomes ou palavras.
Os ventos trazem-me a solidão desta cidade, um dia respirada por ti, e dizem-me a certeza sobre uma nota final que cortei daquele maravilhoso texto que tanto adoraste:
Ainda bem que nunca me chegaste a gostar verdadeiramente de mim. Assim não nos tornamos anjos de pedra aos pés de mais uma triste despedida.