“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata

O esforço da imprecisão





A solidão é um desejo condicionado que deixo em espera para sentir falta só amanhã.
Um desejo tão sóbrio de significado que encanta na boa mentira todos os que se revoltam por mim. E aviso-os, na minha delicadeza de sangue, que o horizonte não assusta se ninguém estiver lá para se ver partir com o sol. Insistem no aparato do mar, da imensidade intermitente de quem usa as estrelas para sua própria publicidade romântica. Os reles apaixonados, escravos monógamos-miseráveis da modernidade que só vêm a ponte no abismo, os de fácil acesso ao entendimento deste soneto como caligrafia suada dos punhos erguidos, transpiram a sua convicção da mentira contratualista asfixiada.
Vieste-me, de joelhos até à altura dos ouvidos como dança, e acabaste no chão como um poema paraplégico de qualquer significado. As tempestades dos nomes pelo cair da noite trazem o amanhecer das ironias de quem quer ser frio como o Inverno, mas cai no erro de ser ridículo como o Verão.
Os braços são duas montanhas desobedientes e não é a qualquer um que, nas profundezas mais agoniantes de mim, deixo ser rio até à verdadeira nascente.

Estou desiludido com todos eles pelo avesso das cicatrizes que me esqueci de cortar.
Verdadeiras despedidas são reflexo de um adeus convicto de não ser-se visão nos olhos de quem acena, de ser deriva que se afoga em lágrimas pestanejadas para dentro do que se sente, e afundar no as ancoras perdidas do que se pensa. Tudo isto nos instantes finais do olhar do momento, da dança do aceno, da deriva curvada à ruptura com os monstros imaginários mais severos do mar. Tais amores, tais amizades (cada vez menos entendo porque a humanidade os separam) viajam desenfreadamente num comboio de carruagens melódicas com destino a uma estação de ruído. Mas já não me causa qualquer preocupação...
Podem sair a qualquer momento, mesmo em andamento, pois a dança sobre a linha é na verdade vossa. Não vou mais mendigar ninguém para dar-me as mãos nesta dança macabra que apenas espera o dia de colidir com o 'poema-fim' que algum deus mimado tentou esboçar para mim.