“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata
2012

O olhar da noite não me traz qualquer soneto que termine em conquista. E ontem, quando as estrelas desceram sobre Coimbra, tive as mãos num tesouro que se distraiu da sua fortuna ao entregar-se aos braços de quem nunca o pretendeu abrir.
A verdade é que a rota da minha decadência enquanto ser humano parece atrair as almas que o tempo esqueceu-se de cultivar. São tão ingénuas... Esbarram-se apenas na pergunta pela lâmina enforcada no meu pescoço, e pelo casaco que o vento as parece encantar. Deveriam gostar do vento, não de mim.
"Somos todos estrelas" - disse. "O problema é que vocês só vivem de dia..." - pensei.

As minhas correntes não são para as prender. A verdadeira corrente de cada um está no que se acredita, e para tal não precisamos de ser meros adereços curvados às necessidades físicas legitimadas por um contrato que apenas é belo pendurado de costas nas paredes do coração. E é por isso que as rompo, juntamente com as propriedades privadas humanas, para ter o prazer de ouvir o som do ferro a arrastar-se atrás de mim à medida que caminho pela rua: O hino do poliamor.

Ao menos somos sinceros!
E isso não esconde a verdade onde lhes falo por detrás das cortinas que se tornou o meu corpo. Não se trata de não conseguir me apaixonar pelas doces loucuras que acredito reflectidas nos outros todos que me rodeiam, mas porque a humanidade ruiu para tentar parecer aquilo que jamais atingirá.
Somos todos obesos de algo que passamos fome. E assim ensinei-lhes uma grande lição no dia que faltei à aula.
Sou uma pedra fria e inacessível que lhes compreende a frustração. Afinal de contas só lhes resta a todos eles me chamarem gay, enquanto elas fingem ter acontecido alguma coisa com o pouco que lhes dou do meu verdadeiro nome.