“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata


Tenho pernas como os outros.


Sou um prostituto de luxo que trabalha numa casa reles. Olha-me nos olhos da próxima vez que abusares de mim. Fecha a porta, não a abras só para espreitar com tanta falta de coragem e integridade.
Paga-me à hora e depois desse tempo nada me deves, nunca deveste não é? Tão certo como deus ser uma mulher a dias num rés do chão sem janelas.
Começo as frágeis ideias que me perspectivo. As faltas de vontades que choro, e todas as lágrimas que deixo para os outros se rirem. São todos príncipes, mas deixam-me modernamente feliz, por saber que todos vão morrer um dia.
Entreguei aos braços de quem me tentou abraçar e apenas caí, como um cadáver, à falta de qualquer sentimento pelo calor humano. Vomitei-me numa música que não faz mais parte desa banda sonora.
Dança-a em nome de quem ela foi escrita.

Mas quem julga nesta vida?

Nunca outrora entrei em deriva pela razão, por extenso ou por sentimento, porque as nuvens sempre me confortaram o céu. Não pelo céu cheio de sol dos vermes, mas pela neve, pela chuva, pelo embalar de estrelas que frio tão bem sabe cantar. 

Vivo a ironia do meu corpo, da mesma como como carrego o meu Ankh cravado numa lâmina.
Comecem os sinos a tocar.
Não é a dor que me assusta, não é o sabor da morte que me enjoa. Esse menu tão sido fantástico porque pela primeira vez me recuso a tais sobremesas.

Engravidei a minha homossexualidade naquele casamento ténue de três ponteiros que não decidem a sua hora. Estamos todos atrasados! Pelo tempo, e pelo que nos rodeia.
Quem tem coragem para falar de natureza?
Que a explore então, como a minha virgindade perdida, nos confins do nada que jamais pode voltar.
Eu não faço parte de todo de qualquer cadeira alimentar.

Tenho medo e nada tenho na verdade.
Fizeste-me uma criança sentada atrás da porta à espera do teu ultimo tac.

Não é o cinto que me assusta.
Anda, bate-me, marca-me, humilha-me enquanto podes.
Sabes que vou sorrir para ti, dessa dor insignificante que me tentas infligir.
Os dias contam-se a si mesmos.

Tento imaginar-me na pele de todos eles. Sou apenas um crucifixo sem sombra numa colina de costas voltadas a deus. Como é ser-te, tu que me lês?
Como é deixar-me e nunca mais voltar?
(Rejeita a existência

Queres um hemangioma-relógio que te pode fazer amanha não acordar?
Tic, tac, tic, tac.
(Continua a tua marcha, eu já te virei as costas)

Se te curo, mato-me. E por isso sou forçado a dar-te as mãos.
Mas eu choro, não por ti!
Não como homem, não como mulher.
Choro-me como trovão.
Todos ouvem o estrondo, ninguém apanha rasgos de luz.
O poema para todos os que sabem que vão morrer e nada podem fazer por isso.
(Quem não está nesta lista, verdadeiramente?)