A verdade parece algo posto em causa num caldeirão de enxofre.
Tiro-lhe o prazer com as pontas dos meus dedos e cruzo-os nos meus lábios. É um estranho prazer das garras, que ao entrar na carne ficam tingidas. Olho-as, perdidas na fronteira do seu desespero, na espera de uma faísca. Nada lhes é tão certo como uma rajada de vazio, que as apaga durante o seu clímax de aspirar às dimensões onde podem mendigar pequenos vidros para um dia perceber qual é o meu verdadeiro rosto.
O mundo não satisfaz os meus sentidos, nem sequer os meus tronos. Mas também que lhe quero? Uma receita milenar não é cura. Apenas o vazio sufoca estes órgãos atrofiados sedentos de sangue, deixando-me a sensação que é algures onde não consigo apontar que posso ser feliz.
Os meus sonhos fazem enormes banquetes ultimamente, e felizmente não me convidam. Eu não como carne porque não posso, mas porque não quero.
Do mesmo modo que não pretendo estrelas e serenatas de bicos de pés nas minhas varandas, mas sim uma lua com os caninos bem aguçados.
Parece mal demais tantas marcas derramadas pelo meu corpo... Mas o meu verdadeiro pecado sepulta-se no esquecimento da viuvá negra que vive dentro de mim. Deixei-a afogar para ser um mero parolo com ânsia de ser sino de casamento.
Os meus timbres apenas mudaram, posso tocar-lhe as sombras do seu belo funeral.
Esta noite a viuvá negra masturba-se dentro do seu caixão algures no céu da minha imaginação, abrindo as feridas profundas para, sem medo, ansiar que caia o teu sangue e a 'contamine' para sempre.
Rio-me da tua cara se o fizeres.
Está tudo coagulado pela desilusão.
Não há interior de mim. Relembro-o do tecto.
"Conto-me a mim mesmo nestas palavras sem qualquer tipo de desrespeito, ou outra necessidade pertinente de afirmar ou mostrar aquilo que sinto. Na verdade, já nem sei o que isso significa de todo.
Vomitei todo o meu interior pelas paredes. Apenas espero que, juntamente com esta moldura, corresponda à obra que tanto ansiavas."
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Lamia Antitheus - Nosferatu March