“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata

A Reminisciência dos Ossos Condensados


Uma introdução no meio de nada, um desabafo no meio de tudo

Ultimamente sei-me ser, vestir e ir, sem rumo e sem ninguém, de uma maneira estranha pelas montanhas geladas do meu próprio pensamento. Sei o quanto bem rasgada é a pele do errado de mim lá do alto, que se ergue continuamente como topo aos olhos dos outros, como alto sem fim, onde a asfixia é apenas um passo contagioso, onde as nuvens desse teto acabam sempre numa rua de pó a duas paragens da tua.
Ali sinto-me sempre despido das mãos que estico, onde o vento me leva os sentidos como grãos de areia a voar até às planícies distantes deste topo onde estou. Mas os olhos voam para longe de mim...

Estou atado de ser! Dito-me e erro.
E tenho usado este resto de pedaços de tempo que tenho, também, para um novo colher das melhores plantas do céu, aquelas que nascem ao contrário do horizonte das nuvens, as que as suas sementes são relâmpagos que servem de semeio em mim e, todas as suas tempestades deitam-se a meu lado com um avesso nos seus próprios olhos.
Isto, no fundo, é nada mais que uma chuva miúda que cai algures cá dentro quando leio os grandes, e assim o tenho feito com uma pálida devoção, pálida de os devorar numa espécie de canibalismo intelectual dos mundos sustentados pelas palavras alheias. 
É ali que me dá uma vertigem, a vertigem sem altura e fico sempre a sentir-me demasiado pequeno num mundo de gigantes, os sem rumo que à voz dos pequenos sentem-se como dois olhos pensantes de pestanas incertas, onde tudo se sepulta fica debaixo de uma asa de um voo que se despista num oásis. Voo que por agora sinto não ser capaz de o voar da forma como o sempre esperei fazer. Mas sinto, também, um pequeno rebento de tudo o ser a nascer em cada um dos meus olhos, como uma estranha forma de existir além do além, mesmo sem convencer, de um dia ser maior que todos eles, mesmo continuando curvando-me na sua grandiosidade.
Mas nunca me ensinaram a ser grande! E quando o imaginava, uma mão afogava todos os meus horizontes. Apenas sei que quando era criança, na escola, apenas os meus feijões no algodão recusavam-se a germinar.

E isso faz-me um mal que só me faz bem! Como um alento de criança, imaginando do absurdo dos outros o mais certo de si!

Por mais que seja apenas um, mais um, tentado perceber o que é a vida, e mais do isso, juntar o perceber ao frágil sentir, hoje sentei os meus sentidos numa cadeira mais alta,  já que eles são meramente recetivos e chatos do que preciso, e como tal, agora sinto-os um grande alvo redondo nas paredes ao dispor de todos, onde que o faz centro vermelho do centro se sabe calcar. Com a diferença de agora as setas que são lançadas ao lado, e ao chão, começam a fazer parte de toda a pontaria que é ser-se de mim.
A verdade é que as pessoas hoje fazem-me um tipo de confusão que outrora nunca tinham feito. E eu sinto-me como uma doença num mundo de gente saudável, uma doença que tenta convencer de um oposto, sobre um outro oposto.
Como duas pontas que se odeiam sem se ver. 



Fonte

A grande fábrica de ossos

Há uma sociedade (de)pressão que varre-se em todas as esquinas como se de vento se soubesse ser. Deprimida, reprimida, e certamente na sua ideia vista como colorida, varre-se nas mãos de quem não se quer ver na outra ponta da vida, escondendo-se, entre artimanhas e furtos assertivos, para debaixo do grande tapete da gente pensante, onde as mãos são ritmo de uma ideia dançante.
E nada que se faça tão certo se pode dar ao dom de realmente o ser. Talvez porque, nós, pensantes e idealistas, julgamos ser aquilo que não podemos ser, enquanto aqueles cuja relação com o seu cérebro não é tão positiva estão sempre convictos de a ter.
Sendo assim, esta dança com o diabo, esta ilusão viva com centenas de olhos sobre o horizonte, não passa de uma reza a um deus que diz-se bom aos amigos, como gabarolas das coincidências, e que é cordeiro aos olhos das mães que vêm em nada a bondade que o reflete, principalmente quando o chamam aos olhos de um outro deus que o deus também pretende e espera acreditar.
Deus que é nada mais que a gramática corrente destes dias, desta modernidade, e prende-se cada vez mais a uma estranha descrença total vestida como revolta, não tão certa, não tão errada, que se lidera a pontos estratégicos por um defunto ser perdido pelo espaço. Então todo este fim responde-me se, por acaso do acaso, as estrelas serão a sua decomposição?
Não teimo. A ideia que teime desta vez comigo.

Vou escapar para ali, vou escapar para a carne. Vou ser radiografia negra a olhos brancos!
Vou ser a fratura, a solda, e o resto que falta ranger, sobre esse velho e sinistro coro, que me pede, com a bela e mais sincera voz, para não ter medo e morrer.


O ranger das ideias

Este é também o tempo que aprendi a fechar os olhos quando durmo. E sonho, sonho sobre sonho, numa base idêntica a um pesadelo, em que tudo é um nada mais de um fantasma dentro de outro fantasma, pois o mundo belo do primeiro sonho termina quando nesse também adormeço.
Chamo-o d'O abismo do sono. Ele a mim nada me chama.

Porém os olhos não ficam dormentes no sono apenas.
Fecho-os na vida, como se fossem ver no preto uma ultima vez. E desde esse instante formado que o começo parece ser um fim cantado da forma que a miséria, em silêncio, assim o poderia melhor cantar. 

No cimo desse silêncio ouço uma porta ao longe a ranger lentamente...
E eu que me oiço por todas as esquinas da minha carne! Todas as pequenas vozes incendidas pelo rei obrigado que as governa...

A porta fechou-se dentro de mim e eu caí sem ver as cores do mundo cá de fora.
Foi um raio de luz que lentamente foi fazendo as pazes com a escuridão e eu nunca soube viver.

Adversário assertivo! Somos todos pelo ir!
Não me lembro de ter sido criança, mas também não me lembro de algum dia a ter deixado de ser!
A vida até pode ser prosa, mas a morte é poesia!



A Lua sinistra

Tanto te pesas nessa marca, tão convicta e certa na carne, mas nunca foste capaz de fome de mim passar? 
E eu, a teu olhos, que sempre fui poeta varrido, teu demente consentido, aquele que sempre te fui mas já não quero mais ser, dei-me ao luxo de ser solene e acabei como a maior loucura que preferiste adiar?
Se me tinhas, e tanto me tiveste, porque foste com a mais bela roupa ver o mundo e se ele ainda tinha à venda o que procuravas em mim?
Não me fazes apenas um saldo do teu momento. Deverias saber-me pelo valor.
E agora sou o primeiro a dizer-te que podes pensar, como fruto de toda essa rebeldia pensada, e mais vendida que mascarada, que tudo o que me podes vir a cantar é hoje uma musica que já ouvi?
Lembra-te que eu sou surdo e que resta-te o banal agora, a procura pelo quadro onde é retratado o coração fantasiado dos valentes, que é no fundo apenas um relógio sem pilhas que nem as duas vezes do dia consegue acertar.
Aqui regenera o que a vida te tirou muito antes da morte chegar, o sonho que não é a calma que o faz, nem a ânsia que o traz, mas sim o ardor do vazio que o farão sentar no alto altar para o domar.

Sabes-me mal. E sempre te soube bem saber-me.
Mas as minhas pontes regem-se por pontas onde não há terra para as segurar.






Fonte


A última fratura do sono (A minha lua em pedaços)

A futilidade nada é mais que um mero acaso em forma de pó, um jeito, um simplório fantasma. Que ainda perdido no outro mundo, está atrasado nos dois mundos. Vive e serve-se dessa fragilidade apenas pintando-se a si, como um palhaço sem graça, e gabando-se frente a um espelho que, na verdade, nada consegue refletir.
E tu, mais que nunca, pareces-me ser o rosto que ele procura. A dor que ele diz sentir, e o caminho que ele pensa caminhar. Mas corda dos teus sapatos anda mais rápida que a minha.
Ainda só sabes ser pouco para olhar e realmente ver algo para trás.



....

Socorro! socorro! 
Livra-me deste perpetuo agora! 
Deste momento consistente mas desligado das duas pontas ao alto e sem fim!

Que sou quando corto a linha?
Para trás, certamente, cavalheiros, uma grande peça de tecido para vender que em vida sempre se julgou convencer! 
Para a frente, cavalheiros, apenas um novelo sem rumo, redondo como a casualidade!

Tomba o abismo lá do cimo da montanha! 
Agarra a terra que o chão te sorri, e sorri também para ela. Sobe ao sitio mais alto que conseguires chegar, e por favor, sem sair dentro de ti, cerra o pulso e atira toda a terra das mãos ao vento.
Aí despedes-te de mim.



Fonte


... E se algum dia existirem olhos suficientes para o meu virar pedra, só espero ter alguém que sobre ela lhe faça tirania e confusão ao pó sobre o mundo que a sobra.





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Quando vejo as merdas que maior parte de vocês escrevem, só me dá vontade de me enforcar.
Abana a corda com o ridículo. Hoje tornei-me um caixão lacrado.