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Escrevi-te como quem procura as mãos dadas, acorrentadas mas mal atadas, numa pintura eternamente desafinada pelas pontas dos dedos coladas às sinfonias estreitas de todos aqueles estranhos lugares onde apontam-se fardos e queimam-se vontades em círculos na esperança de na morte viver. E, não conhecendo o fim da suficiência, esperei sentado no fim pelo anoitecer mas ainda não sei onde pairou o fumo que sufoca o mundo na verdadeira razão de o ser. Vieste sem rosto para me ver, posso pedir-te maior honestidade?
Tentei ver-te os olhos para ao pouco perceber os poucos que o teu nome esconde. Como uma língua morta que se ergue na cacofonia de toda a hora, os tempos extra onde se escrevem epitáfios de pequenos zombies diurnos mal sussurrados, cujas mensagens não prometem eternidade mas sim um breve até já prolongado pela noite com vista ao assombro das mentes de quem se ama friamente na cama.
Sei-te pelas sombras mas sei-te mais pelo que me calo. O tempo deixou-me a balançar sobre mim, onde caí em ti, e todos os nossos pecados hoje abrem portas do céu.
Não quero entrar no mundo onde o fim já se pensa, e por outros se executa. A honra das divindades de um sorriso onde a tua ira faz cocegas nos pés de deus. Não posso é escrever deus com inicial grande pois seria uma ofensa ao Teu nome.
Prometo-te no desespero do vazio que recuso-me a sentir as mais loucas vontades quando sei que me visitas sem olhos todos as noites. E mesmo que o faças, despida ou mal vestida, todos os meus fins são atenção do teu olhar. A pele serve para suar do mesmo modo que o chão pensa que nos segura. Não que te possa ver, muito menos ter, ou entre sonhos tocar no ver da beleza a crescer. Apenas acredito que todos os nossos jardins, longos no silêncio e belos da distância, são pintados pelo céu em olhos de Medusa, e esta noite chovem estátuas de um tu e de um eu petrificados instantes antes dos lábios se tocar.
Serei insano por te ver nascer como um sol onde a sombra treme em te ver? O amanhã diz-me que o tempo é certo, porque nas sombras o sonho é escrito na luz de nos ver.
Sou apenas insano por que ter! Minha perpétua dança deixada para amanhã...