“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata

Arr! I is a sad pirate

Em tom especial, faço questão de não dedicar estas palavras.



A noite cai de joelhos e todas as estrelas se deitam de barriga para o ar ao aceno de Cassiopeia. O ar as chama, de costas voltadas ao sonhos dos terrestres que as olham, e inconscientemente, pedem desejos espontâneos de uma linha de tempo definida escrita a veneno. Os pianos tocam uma melodia serena, os grilos e as rãs tornam-se maestros neste planeta fundado pela água, e apenas água, que aspirou na sua honestidade em saldos ser continente. Resta-lhe um abismo centrado em si no eixo fúnebre do ritual sem significado, existe apenas um enorme oceano cujo fundo de uns é a superfície de outros.
Ela emerge dali sem nome e sem rosto. E dança, com ele, de mãos dadas no centro incógnito enquanto amarram os frágeis sentimentos numa ancora de papel que nunca encontrará o seu fundo. O seu túmulo distante foi-lhe negado pelos anjos de pedra que decidiram voar.
As ondas são fortes como diamante, quentes como lava, e inúteis como respirar. O altar deste sistema reserva-lhe a face,  a imperatriz deste sistema automático montado pela biologia que se oxida a si próprio. Inspira-se na inutilidade de envelhecer, e pinta-se com o sofrimento escorrido a sangue desta garganta ou pelos olhos de fogo causados pelo incendido infindável de ser-se algo sem fundo. Piromânicos de coração.
Na volta apresentam-se como sonhos, mas caem como falhas entre noites repletas de falta de sono. Inspira-se em fracas vontades, de quem viaja pelo futuro, ao saltos, e quando cai no pior cenário fica paraplégico. As rodas, da sua cadeira-de-rodas, giram no sentido invertido ao que se espera, pois neste barco não existe outra saída que não abrace o seu próprio pé cravado de espinhos.
Ele abraça o sonho do presente, e anseia que venha o seu ego do futuro para o socorrer. Mas esquece-se, que ele já o futuro de outro presente, o passado aclamado e fragmentado no terceiro tempo desta dança. Não parece existir o eu do futuro de outro futuro. Apodrece ali na esquina das vaidades com apenas uma carta tesouro roubada do fundo deste oceano sem fim.
Não a é capaz de ler:



Hoje abro-me pela ultima vez como uma lâmina contagiosa do vazio sobre o interior dos meus pulsos com ferrugem. A alma, desta despedida, suprime-me a magia do ar, a qualidade dos sonhos em segunda mão, e a tristeza que respirar se torna quando aprendemos a contar os dias e as estações como um velho ritual cíclico com rumo à falta de qualquer verdadeiro significado.
Cansei-me de egocentrismos crônicos e daquela vontade estranha interna da unidade ventosa debaixo das portas. Reles formulas estatísticas como o vento que grita debaixo da porta, assim me resumo, a ensaios suspirados de aborrecimento incerto e filosofias com rumo ao sentido contrário das esperanças de quem as deseja alcançar. A incerteza do mapa e a inexistência desse mesmo caminho.
A criança cresce esmagada pelos ossos do que não compreende, recebe as dádivas das mãos que a empurram enquanto esta é entalada e reformulada para dançar sobre ossos de vidro. O ritmo é rápido de mais e o chão incerto para queda tão certa. Ela ali se corrige, na expressão dos seres humanos que amamos e somos forçados a deixar nas mãos de quem o vidro se tornou pó. Sonhar é um vidro que só faz sentido depois de quebrar nos nossos pés e estarem esmagados pelo sangue e não mais poderem caminhar.
Queimei-me neste meu ultimo nome em lábios pintados de vermelho e longos cabelos. A mulher que me corrompe as artérias, a magia negra inofensiva da angustia amaldiçoada, e deixo as tiaras de espinhos que a condenam ao seu próprio desabafo. Embora nunca tenha escondido, ninguém o entendeu.
Dei-me a esse pequeno luxo, de caminhar de saltos altos com um nome quente como o Inferno enquanto apenas me souberam ver como maré que apenas sobe e tudo afoga. Os braços dançaram a melodia dos olhos doentes na tristeza deste oceano vazio onde os monstros fazem uma orgia em nome do seu tirano.
A dor dos dias queima-me como o frio da noite, e não resta mais nada neste sufoco de lava neste centro de oceano.




A melodia desta carta termina no rosto dela que a lê. Não compreende, mas sabe-a mais que outrora. A carta rasgou-se e jamais alguém a ouvirá dizer que ama. 
Mas agora querem saber, o que é ser ele?

Sente e faz-lhe especial a riqueza, a contagiante e cosmopolita mendigagem de quem é do mundo sem ser-se de lado de nenhum. Os grãos de ouro do sorriso e os sonhos intelectuais que lhe fazem tsunami de suspiros. O que me resta? As migalhas do pão mais pobre da humanidade, das raízes que me insistem em prender a uma terra que não reconheço a minha sepultura. As raízes das minhas veias, deformadas e com vontade de colapsar, gritam toda a negrura de quem é apenas mendigo das coisas que não consegue ter.
Quartos de hotéis dizem-me onde ele mora. Onde me afoga na minha ignorância e inutilidade de existência. Os lençóis fazem-me outro calor, outra sensação de pertença a quem já devia estar na unidade de queimados mesmo antes de nascer. 
Se a bela mãe, feia como a minha, abre as pernas e unicórnios sepultam vontades dos seus gemidos, o mundo subtrai-se numa formula complicada: A ecografia das vontades cancerígenas. E ela submete-me aos olhos dele, porque grita o mundo a cores que tanto desafinam...

(Lágrimas, onde começam elas verdadeiramente...)

Nada pode doer verdadeiramente! A doença deste túnel quebra nas suas pontas e ninguém mais pode sair dali. Nem que a entenda, nem que a saiba. O fim resume-se ao inicio do seu sorriso sádico.
A caligrafia começou a decompor-se.

Oh paixão...
Oh certeza...
Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social. Reprodução social.




Porque não começa de vez a chuva lá fora?
Odeia-a! Acha-a, outra vez, nojenta no vestido branco. As cortinas deste sofrimento rezam uma tempestade de frio que se abraça e termina numa casa perdida no meio da minha existência onde, aquando criança, sonhara varias vezes crescer ao colo de uma mãe que me protegia dos ursos estrangeiros ao conforto. Aprendi a reconhecer o amor à neve nas fantasias de criança, e aprender a ser solitário naquele vazio de lugares onde ninguém mais tinha espaço para respirar.
Caio em joelhos sem os esfolar, sem sangrar e sem mais chorar. O meu peito aberto tornou-se o vento do que parte, do arranhar os céus onde todos o sentem mas ninguém o jamais poderá agarrar.
Sinto-me uma criança mimada na violência, nos insultos, e nas marcas de vassoura nos braços. Os ossos doem hoje, e caem sobre a terra para descobrir o nome de quem se suicidou:

Não é que não tenhas nome para uma menção numa carta de suicídio, apenas és a folha onde tudo está escrito. Não vale a pena amar algo que temos a certeza nunca perder.

(Aquele prazer de ouvir uma das musicas que mais adoramos ser tocada ao vivo.)