É nestes momentos que desejo um cancro terminal, ou alguma outra arte em forma de morte que tenha coragem de levar aquilo que as minhas mãos apenas sabem escavar sem encontrar o tesouro.
As amizades sempre me foram mais importantes que os meus amores eternos ou até mesmo sexo. Mas isso nunca serviu para ser visto, porque, as minhas concepções de amor sempre arderam com a fome de mil infernos pelas almas mais cruéis e ferozes que alimentam a besta.
Começam a ver as falhas dos meus barros, e sobretudo a minha falta de dignidade que se amonta neste lixo que docemente vou chamado casa. Sejam ataques os desmaios de dor ou a anemia, não lhes consigo sentir um mínimo de dor.
Eu, que amo a natureza, apenas me casaria com ela. Com ela serei terno. Serei pó, serei um cadáver cortado em linhas de comboio. A velha fantasia de acabar dessa forma. Serei eu, em pedaços ao som dançante de sirenes em marcha louca, como um dia escrevi.
Não peço um Nilo, nem muito menos uma Isis que me recomponha. As cinzas merecem o seu descanso. Não peço filhos, não peço cobardias ou desejos de infernos que me aquecem. Apenas peço silencio.
A noite que me traz perto da linha, e todos aqueles ferros despedaçaram os terrenos da minha doce virgindade perturbada me trazem uma noticia. Sempre fui burro a ver o que me queriam dizer.
A verdade é que os sonhos são a minha tranquilidade neste lixo onde me deito. As rosas, cada uma com o seu nome que me fazem a cama há muito que me deixaram de sentir o funeral sombrio da noite. Ultimamente tenho cruzado os braços sobre o peito, como um morto num caixão, e desejar que o amanhã, sem despedidas, na verdade não chegue.
Não quero exageros, nem acusações de dramatismos. Sei que não sou o melhor, mas para alguém que foi socializado a ser pequeno, muito pequeno e pobre, ascendi a um mundo onde me tornei guerreiro. Na verdade, nenhum mundo ou pessoa merece ser minha. Cresci imenso com as tromboses dos relógios. De um cristão ótário, hómofobico, e irracional típico-labrego do campo, virei príncipe com roupas do povo. Mas ele, que veste a nobreza, o dinheiro e a riqueza para se cultivar a si é que é o privilegiado.
Por mais que insistam em chamar-me de erro, de palhaçada da internet, ou simplesmente olharem com nojo para mim pelo facto de ter nascido eu olho-os na cara e penso. "Caro amigo. A pila foi tua, e puta foi ela."
Tive a experiência recente de outro quase divórcio. Eu sei, sou adulto para estes circos, e não me devia deixar afectar por isto. Apenas... Me trouxe algumas lembranças doentias, nojentas, repugnantes e extremamente macabras que o meu coração (dado a tudo o que fantasticamente se concentra à minha volta neste momento) me cortou o coração a meio e lançou-o às feras da perfeição dos outros.
Aprendi, a não ter vergonha daquilo que fui, e sobretudo daquilo que durante anos me obrigaram a ser. Como sociólogo deveria escrever um manifesto anti-socialização, e sobretudo aos determinismos que elas causam durante período da nossa vida. Talvez sejam as drogas que me tocam a mente, ou então as tremuras que este corpo em vai dando, mas esta é a coragem que os meus olhos quase cegos se dão ao luxo de escrever, o verdadeiro (e sem talento algum) o epitáfio da minha infância.
Que me resta disto? Penso pelo fim! Por mais que alguém um dia me pediu para ser grande, e eu tentei o ser e em grande parte ainda o sou, nunca lhe contei a minha natureza, ou a velha casa que chovia lá dentro. Ou o menino que não brincava com os outros porque cheirava mal. Talvez nunca tive uma mãe para me fazer ser alguém. Seriamente, as condições eram muito más. A minha velha casa de pedra não tinha casa de banho sequer! É tão fácil ser rei não é? É tão fácil ser viajador do mundo! Olha a riqueza do meu! Senhor da fantasticidade! As histórias de uma criança que fazia as suas necessidades biologicas pela noite soam-lhe a um bom poema? Talvez não, cheira-lhe a medo, algures num horizonte distante.
Quando penso naquela casa hoje, fico fascinado e com vontade de lá re-entrar. Não sei se é doença, ou pura fantasia suicida de lá morrer como um cavalheiro. Certamente o meu passado que vive uma linha anterior a esta que me encontro solenemente a escrever, iria adorar saber. Havia um video, extremamente interessante, de quando o meu pai comprou uma espécie de máquina de filmar em que, lembro-me perfeitamente, se via uma criança no colo de uma mulher, com a face toda queimada a brincar com os seus inúteis animais da quinta de plástico! Isso, foi, certamente das maiores dores da minha vida, como certamente eu lhes entendo as cores, o cheiro a queimado que mais a frente terei todo o prazer de contar.
As luas foram, na verdade, estas fases do sono. Acho que vi de mais para um altura que devia acreditar em príncipes Hoje, não me arrependo de nada e nada mudaria. Sei que as mazelas pelo meu corpo são grandes, e tenho nojo delas. Olhar o espelho por vezes é uma chicoteada diária em honra dos velhos tempos, ou o prazer doentio deles ao queimarem na minha frente as coisas que mais adorava. "É apenas uma criança" diziam eles. Hoje, digo-vos: "Era apenas o Mi em criança! Porque não me queimam a mim?"
Na verdade, toda a minah infância deu-se à criatividade dos brinquedos e ás fantásticas histórias que eu inventava com os meu pequenos porcos de plástico. Nunca me deram um livro na vida, nem tinham dinheiro para tal. Não julgo. Sobreviver era uma necessidade, estranha para satisfazer alguns luxos de a rainha do degredo! Digo-o, com toda a certeza, de todo o dinheiro desfalcado para coisas que eu vi, e o meu pai nunca soube, entenderem. É apenas um miúdo sujo, é apenas um cigano de calções rasgados com caracóis loiros que servia para trabalhar no campo.
Venero o meu cérebro, que num contexto socialmente tão lhe adverso consegue ser aquilo que eu sempre quis. Ter respeito próprio.
Por mais que olhe para os meus braços e sinta os ossos a doer devido às sessões de pancadaria diárias, ou aos insultos e gritos que me iam deformando dia após dia, ironicamente, só lhes vejo a dor infligida por mim mesmo. São dezenas, são arte.
Vejo a cara dela ainda a caminhar pelos jardins quando caminho. Apesar de tudo tornei-me um Homem e deixei a barba crescer. Embora um amigo meu me diga que eu sou uma espécie a proteger no mundo, eu sou obrigado a dizer-lhe, que juntamente com os nossos caracóis, os sorrisos que ele me provoca são os mesmos. Não teria qualquer problema em dizer que te amo do fundo das minhas inquisições por tudo o que me deste até hoje. Somos "bois", mas as nossas marradas são isso mesmo! A certeza dos meus dias, que infelizmente dado a certas incompatibilidades ficamos afastados. Nunca me viste como sujo, como frágil, e sei que quando te mostrar isto (farei questão), sei que me abraçarias sem ter nojo das aguas onde a minha evolução começou. Mesmo estando ambos carecas (eu de alma e tu de cabelo), digo-te e volto a dizer, serás-me grito até morrer!
Talvez as lágrimas hoje são a verdadeira carta que deixo sobre a minha vida. Ou esta coragem doentia que estou a ter neste momento, e só deus o poderia saber (se não estivesse morto), o fogo que a minha podridão está a lançar sobre os meus carinhos.
Nunca soube o que era um abraço, e sempre o soube mendigar. Lamentavelmente os meus amigos nunca estão comigo. E se há coisa que eu sou, é uma fábrica de rótulos do inferno, que está mentalmente a promover as pessoas a meros "conhecidos".
Olha-me, como o falhado que me ensinaram a ser. Olha para mim? Rodeado de socializações alucinadas no lixo, na violência, dos cintos sobre as peles. Quem sou eu?
Em Agosto uma das pessoas que mais amo neste mundo me perguntou pelos meus braços. - "São um mar de vergonhas", pensei. - "Não é nada", disse. E sabendo que estava a mentir tentei ser sincero, afinal de contas, para quem está comigo fisicamente percebe que eu fujo com os olhos para o céu de vergonha.
Nada lhe foge, nada lhe diz e tudo lhe acredito. É o pouco que te posso dizer, e sentir. Talvez a minha coragem, ou falta de iniciativa se prenda às dores constantes dos meus ossos. Ninguém nasceu para ter uma vida fácil. Eu acho que, não nasci para respirar. Durante anos, julguei-me adoptado.
Mas tudo mudou.
Hoje, sou licenciado. Adoro o que faço e considero-me bastante bom na minha área. Não inovo com porcos de plástico, não brinco debaixo da mesa para não os ver discutir. Mas sim com meus amigos imaginários, que apesar de tudo, são aquelas mentes que me ensinaram a ver um mundo diferente. Não faço disto qualquer tipo de auto-penitência: nada em mim aguenta mais sequer para tentar tal barbaridade. Apenas puxo uma imagem. Um dia, uma porta. E uma partida.
Puxo, nesse tsunami de falta de afecto,
A imagem mais cruel que tenho na minha cabeça, ainda, é a de uma criança a ver todos os seus amigos de plástico queimados. Eram a única coisa que tinha... Vi-lhes de perto derreterem na fugueira. Nada, mas nada, nesta miséria de vida algum dia me apagá aqueles horrores, aquelas caras, aqueles sorrisos gananciosos de retirarem a felicidade a um inocente!
Se algum dia for pai, certamente que o meu pequeno príncipe terá livros, terá um mundo aos pés, e terá um pai que, lhe dará um castelo. Se algum dia não o for, serei a lembrança, o fogo de tudo o que me recusaram (do mais simples ao complexo, e até ao impossível).
São ecografias de possíveis irmãs minhas! Me lembro!
São desenhos, e caixas de musicas que ainda hoje me atormentam, ou então ruidos de leão espalhados pelo chão. Ou, quem sabe, os ratos que me roíam os pés.
Os meus belos sonhos são estas recordações que progressivamente me vou recordando e neste momento chorando. Olha para mim, olha para ti mesmo, repito-me a mim mesmo. O espelho não precisa de me reflectir, até eu tenho nojo da aparência que tenho neste momento. Não, devido ao lixo, à pobreza extrema ou até mesmo à fome. Mas sim a um interior que se chora e que se vomita.
Tenha pena que a ultima vez que nos vamos reencontrar, será sobre a campa de quem partir primeiro. É triste de mais assumir-mos a vida num horizonte e negar o básico a mendigos. Simplesmente não somos humildes para pensar que amanha nada pode existir.
Hoje tenho uma casa, não tenho um lar. Hoje passo pelo aquele monte de entulho, e dentro de mim ainda lhe chamo casa. Talvez, veja uma criança que nunca tive oportunidade de conhecer a correr pelos campos, ou, vejo-lhe a sombra enforcada no cinto da sua destruição. Nunca me deixaram ser quem queria ser, nem nas portas que abria.
Peço desculpa às dores que me caem no chão, não vos posso levantar para o meu colo. Peço desculpa aqueles que nunca me conheceram nestes campos, e sobretudo àqueles que lutaram (apesar de tudo reconheço o esforço) para eu me encontrar. Não faço nomes desta festa.Se algum dia me virem na rua, não tenham vergonha de me olhar com nojo e cuspir em cima. Nunca me conseguiram atingir cá dentro. Apenas sou um sem abrigo do momento, um mar de luto de pensamento, que se ergue com classe nas marés nocturnas do apodrecimento. Nada nesta vida me faz falta, porque nada é verdadeiramente meu. Nem teu. O maior sorriso que levo deste pecado que é viver, é de saber que, juntamente com o meu fim, ninguém ficará cá para se rir do meu pó. Porque esses, sim, um dia também serão pó.
Fotografias, restam-nos. Uma última captura da nossa essência, que aos poucos vai sendo emoldurado pelas paredes.
Escrito ao som do belo álbum: Falling Deeper, de Anathema
Obrigado, pela música, pela companhia da que me encanta o vazio da alma, das lágrimas e dos sorrisos. Da loucura, dos cabelos arrancados pelo prazer da dor.
Dos anjos que me dão asas e não me ensinam a voar pelo "desastre natural" que tudo isto é.
Obrigado, por me deixarem olhar céu e fingir que voo nele por momentos.
Dos anjos que me dão asas e não me ensinam a voar pelo "desastre natural" que tudo isto é.
Obrigado, por me deixarem olhar céu e fingir que voo nele por momentos.
"No matter what I say
No matter what I do
I can't change what happened
(I can't change what happened)
No! no! I can't change
You just slipped through my fingers
And I feel so ashamed
You just slipped through my fingers
And I've failed"
"My dream world is a very scary place, too"