“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata

Sui Caedere V: Neoplasia (Terminal)

Último diagnóstico

Sonhos de Novembro/Decomposição de Dezembro.
(Esta é a minha renuncia aos anjos e às batas brancas.)

Finda-se a termo, e em si, o ciclo das marcas da carne ao encargo de outrem. Comercializado como a verdadeira onda sem pés, remetente do "tsunami-centopeia" pintado a hemoglobina, que dança a sapatos estritamente salgados sobre as feridas abertas, as valas comuns da nossa própria dor. Dança-a no luxo do varão, de quem se pensa rebaixar no auge da plateia, com uma coreografia cujo final se traduz a um mero ensaio (falhado) onde os sonhos que prolongam na cura, não como cicatriz, já que estes protagonizam como a dor tatuada, do que tanto que nos faz e do pouco que nos será verdadeiramente legível no segundo seguinte aquele que esquecemos de contar agora. Ensaio-a para a ensaiar.

Sozinhos, e talvez perdidos, abraçamos a solidão entre ventos. Pelo vazio distante na gritaria do coração, escusamos-nos naquilo que somos, à impressão conjunta das tintas daltónicas em que afogamos os dias para arrepender o respirar de quem se esqueceu de nos fazer suspirar. Conta-me as gotas que já estão  contadas.. Fotocopia-me a própria existência, mas desta vez fá-lo a preto a branco.
Assim como as noites, aquelas que caem cada vez mais geladas porque não sabem ao certo onde dormir. Inspiradas na tristeza suave que se coloca em cima da mesa para todos admirar antes de adormecer: a fotografia daquele quadro que é apenas minha, um 'eu' que dorme em jornais na rua mais fria do teu pensamento.
Não sei ao certo quando tudo lhe acaba, mas sei-o morto no horizonte. Sei-o, derramado de ser e viver, sepultado nos pensamentos e coberto nas palavras. O meu, parte do eu, e jaz nos teus braços sem mais palavras a acrescentar aquelas que não me vais dar tempo de pensar.
Sei que tenho nojo de me ver e de saber que ele continua a crescer dentro de mim enquanto se ri como relógio. A diferença é que descobri como o provocar, como o irritar, desafiar a tirnaia da morte e a fragilidade de sonhar. O limite é como as mãos não se cruzam, como despedidas a quilómetros de quem se capitaliza unicamente no dialogo com as mais bonitas palavras apenas. Sintoniza o silêncio porque nada que posso dizer assume interesse, ou é rebaixado, distorcido, pelo esplendor que os maços nos levam. Insisto, uma vez mais, comigo o quanto estou farto de tudo isto, dos meus braços feridos que ainda se erguem, por estarem cansados de saber que, se se baixarem, alguém me os vai amputar, fazer chorar, e lançar-me ao oceano desta triste e solitária realidade que me tornei. 
Caio-o, por ultimo, na terra, com todos os demónios a meus pés como espinhos, e todas as rosas na mármore como anjos. 

Não preciso de (súbitas) companhias e empatias para nada. Não sou calvário, nem despedida. Sou a certeza que o presente é uma reles ilusão: Tudo só é interessante quando se torna numa memória perdida.
Cedo de mais para sonhar, tarde de mais para acreditar.