Correm as sombras pelo verde sepultado no cair das folhas, atrasam-se em hora de ponta e serram-se as árvores mais altas do meu próprio pensamento. Elas caem de pé bem ao lado das casas de madeira que abrigam os demónios dentro de nós, onde escondemos o fogo de quem lhe faz festa e o sorriso adormecido da ira temporária de uma combustão desejada. Caem como pontes mas acabam em portas sem saída para lado nenhum. Servem apenas para os varridos bairros de folhas verdes e para as águas mortas entre lagos que, na poesia das folhas de Outono, pintam o voo trágico sobre aquilo que já não sinto, derramando o som de te as ouvir calcar, passo a passo, enquanto desapareces no meu horizonte. Desta vez sem acenos.
Esta dança tornou-se triste e eu morri. Morri aos pedaços na sala de espera de uma véspera, uma de muitas tardes que desaparecem nesse deitar de cama. Mas como sepultura dos momentos, o epitáfio da desilusão escreve-se no dia anterior ao vulto, ao aceno que cai nas margens e no oceano que serve de ancora ao horror dos nossos olhos já estilhaçados. Desta vez levantei-me do caixão, mas será que já não estava verdadeiramente morto?
Não tenho qualquer saudade de nada, apenas do que foste num passado bem distante daquilo que hoje nem te lembras ser. Tornou-se impossível retirar algum prazer das folhas egocêntricas, dos acontecimentos de apenas uma ponta afiada, a tal que pelos vistos importa a quem a espeta sem querer ser espetado.
Esperei demasiado tempo a sonhar como seria viver, e agora que acordei, a minha vontade é adormecer sem me despedir de ninguém.
Serão os lindos olhos de lagarto?
Ah, e tu? Do primeiro ao ultimo segundo.