“Time flows in the same way for all human beings; every human being flows through time in a different way.”
Yasunari Kawabata

Não sei quem o faz, e não pretendo saber como o faz. Sei-me, apenas, nas linhas de como foi feito, re-feito, e silenciado enquanto escrito por canetas sem tinta. Deixam apenas marcas pouco profundas no papel.
A aura pouco presente, talvez embrulhada naquilo que chama de saudade, conhece outros tons quando nada pode cair de joelhos neste chão de espadas.
Se o fazem, ou se o pensam fazer, a mim nada me diz respeito. Talvez esse respeito seja apenas uma pequena vela que deves colocar nas tuas noites, uma vela que não arde para que cera ser uma presença eternamente inanimada de mim.
Doí perceber os esforços de quem me rodeia quando tentam abraçar-me. Eu, distraído de mim mesmo, caio sobre eles como uma pedra, como as pétalas de um amor que resume-se na confiança de um malmequer rasgado pétala a pétala. Apenas sou um peso que não sabe lidar com os seus pequenos excessos, com os mal-me-queres que eu crio de mim mesmo, quando sei que, na verdade, são bem-me-queres. 
A questão é que eu já não sei o que é querer algo. Sei construir palácios físicos de cultos efémeros, mas não sei lá viver. Contento-me em mendigar-lhes às portas, de costas para quem me pode dar alguma coisa.
Talvez porque não o queira, ou porque já não me consigo rever neste corpo amaldiçoado por um deus que trabalha nas esquinas onde mendigo-lhe a inexistência.
Se todos fomos crianças, como é que as coisas podem acabar assim?


Mas a noite por vezes trama-me as dores, as radiações que dançando com a deformação, inspiram um esqueleto que tanto pretende dançar a sua danse macabre, arrastando a minha carne com ele para as traseiras da solidão.
Não sou permitido estar ali - digo-o sempre que sonho-o fora de mim dançando sobre carris. Não és tu que fascinas - repito. São os sons do horizonte que colhem a vida humana. Quem ali morrer, morre por todo o lado.
Se os sonhos têm sexo com os pesadelos, e sempre o tiveram em toda a minha vida, não sinto qualquer autoridade moral de lhes aplicar qualquer tipo de contracepção. 
Fico-me apenas pelo babysitting das suas belas crianças, que tenebrosas e esbeltas, me pedem como ultimo desejo adormecer ao som daquilo que as minhas luvas escondem.
É por isso que me esforço em adormecer todas as noites antes que ela chegue e me mostre o que quero escrito no meu proprio epitáfio.

"When I was thinking this was something permanent, you're already thinking of going away"

Não preciso de nome, rosto, ou datas. Apenas que o tornem real.